quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Vinho Tinto

"A última vez que te vi já faz um tempo, foi entre um beijo roubado e um abraço meio sem jeito, despedidas e incertezas. Uma cena que embora breve guardei em cores fortes, tempo 'slow motion' e temperaturas nada habituais.
Como tudo seu dentro de mim, as vezes adormece, outras tantas acordo com o susto do grito que ecoa no meu peito, um sussurro tão alto com seu nome, que sinto serem feitas cicatrizes, tatuagens internas, lembranças permanentes.
Então é na madrugada que levanto, me afasto do sonho que você apareceu, ligo a tv, ligo o som, tudo que possa calar essa saudade, só por uma noite. Só por essa noite, enquanto fecho os olhos e vejo seu rosto; só por essa noite, enquanto respiro e sinto seu perfume; só por essa noite, enquanto me lembro, e você me esquece.
Preciso adormecer sem pensar, corro em busca de analgésicos, brindo com um copo de vinho tinto, barato, algo que tenha mais álcool que uva, mas que seja forte, que seja cítrico, que seja escuro o suficiente pra me cegar por um instante. Que seja um alucinógeno que me tire da órbita do teu corpo, que seja um refúgio, meu apenas.
Vinho barato, tinto, o seu preferido. A coragem chega, um ato desesperado e insensato, corro atrás do meu material de trabalho, um violão desafinado, lápis e um pedaço qualquer de papel rasgado. Começo a te escrever uma canção, uma declaração em notas tortas, adocicadas pela embriaguez, perfeita, tão minha, tão sua, tão nossas aquelas frases de poesia gasta.
Saio alucinado e procuro uma forma de te chamar, mostrar aqueles versos, leio, releio e quando por fim me convenço, vejo lagrimas no meio do texto, vejo teus beijos, me apego ao ultimo contato com teus gestos, me sirvo as últimas gotas de vinho, respiro pesado, e deixo cair sem ver respingos da garrafa de vinho tinto que eu comprei pra me ajudar a te esquecer."

- L.Martins

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tua voz

Eu acordo sorrindo lembrando do boa noite que você me deu, o tom que usou naqueles segundos de ciúme por uma bobagem que eu ouvi de um estranho na rua.
Meus sorrisos foram se multiplicando com as suas mensagens inseguras ao longo do dia, e eu apenas pensando em chegar a hora de te ouvir novamente. Um minuto, e pronto, o meu dia seriam apenas as boas lembranças.
Com você do lado eu esqueço o trânsito, o calor sufocante, a fumaça, a música ruim do vizinho e até aquela dor no joelho que insiste em voltar. E você sem avisar me faz elogios com a voz mais suave, sem deixar de ser firme. E meu pensamento se questiona se é possivel tanta sorte.
Eu não me acostumo com tudo o que você faz, e me vicio ainda mais. São teus olhos, também. São teus abraços, o percurso da tua mão no meu corpo. São os arrepios na nuca, também. São as horas que voam quando nossas bocas se encontram, são as nuvens cinzas quando você se atrasa. São todos os 'eu's que encontro em você, mas acima de tudo é essa tua voz, o teu timbre, tua mania de correr de um assunto ao outro, ou o teu silêncio me escutando.
E somos nós, dividindo as palavras, e completando as frases, e sem querer somos preenchidos por esse sentimento, que descobrimos ao batizar de 'amor'.

- L. Martins

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Um dia contigo

Eu acordei leve, olhei pro lado e entendi o motivo. Aliás, os motivos. Você não foi embora na madrugada, e amanheceu me olhando e me entregando seus carinhos.
Eu acordei no dia anterior querendo coisas simples e fortes. Uma dose de vodka com morangos, beijos intermináveis, sorrisos acanhados e a sua voz ao pé do ouvido. Um dia bem vivido.
Foi então na altura de metade do meu dia que sua mensagem chegou, marcando hora e lugar pra conversar. Quem faz isso se não for pra contar casos, fatos e sentimentos infelizes? Uma conversa séria pra quem nada leva a sério. O que eu tinha a perder? Eu mal sabia que havia chegado a hora de ganhar.
Você me veio com rosas, e eu dispensei os morangos. Pediu um vinho branco, e eu esqueci do calor da vodka e achei tão mais doce aquele teu sabor. Os beijos, esses foram quentes, sinceros e cheios de desejos, quase sem fim, se quase não me deixassem respirar. Os sorrisos com aquele jeito extrovertido tão teu, e tão meu em resposta semelhante quando me olhava sem desviar.
Foi assim, você me viu por inteiro, me segurou a mão, me entregou seu coração e me ofereceu o lugar de cúmplice nas histórias da sua vida. Eu disse sim, disse todo o meu querer ficando em silêncio naquele abraço e depois me conduziu ate aqui.
Até o momento em que acordei, com um brilho do anel de prata refletindo o sol, a sua mão na minha e a leveza de que era o início, um dia, o primeiro, de todos os que passaria contigo.

L.Martins

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Estamos bem (Parte II)

Eu resolvi sair de cena como suas atitudes me pediam de forma tão imperativa. Todo mundo sabe, eu nunca incomodaria você, nem atrapalharia o caminho pra você ser feliz. Pode ser outra pessoa, mas que você seja feliz.
E foi partindo, virando a esquina e chorando por você ter me escutado dizer aquele 'até mais' que sabíamos não ter volta que as coisas mudaram. Foi ali, a alguns passos da tua rua que uma mão me segurou quando vacilei, e me ofereceu cuidados, afagos, sorrisos e uma nova chance.
Eu sei, e esse ajudante também compreendeu que ainda havia pedaços de você cravados no meu coração, no meu olhar e nas minhas ideias.
Você ainda existe em mim, eu ainda penso em você algumas horas do dia, mas vou aprendendo a viver sem sua presença, e dei sorte, tem alguém paciente ao meu lado querendo me ajudar, e sem cobrar nada em troca, ganhou muito mais de mim do que eu achei que podia oferecer.
Estamos em paz, você com outro alguém, e eu oscilando entre a saudade e a novidade desse alguém que eu aprendi a chamar de amor.
O que dizemos é que estamos bem, e quer saber? Dessa vez acho que pode mesmo acontecer. Achava difícil, mas tive que escolher e você me incentivou a dizer, adeus amor, adeus você.

L.Martins

Só quem sonha acordado vê o Sol nascer

"Existo onde não sou" Sigmund Freud
"Sem a música, a vida não teria sentido" F. Nietzsche
 
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