quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Não era você

Como a vida segue, eu fiquei aqui e você partiu com sua bagagem repleta de motivos. Há tempos não dividimos o dia, não somos o conforto ao meio dia, a risada na praça; somos sós, eu aqui, e você com todo o resto que não sou eu.
Agora troco de nomes e telefones a cada sábado, invento personalidades, rotas de fuga que me afastam de mim e do muito de você que ainda habita pela casa.
Divido a cama por ter me cansado da solidão, do silencio ou do abraço que encontro nas nossas antigas canções. Os carinhos que aprendi para te satisfazer e te fazer feliz entrego a outra pessoa, cruzo dedos, roubo beijos, encanto com falsos sorrisos; e há quem se engane que eu sempre fui desse jeito.
Recebo abraços que não tem seu cheiro, seu calor, e me pergunto se você me emprestaria por um segundo mais aquele olhar que me despia de conceitos e teorias, que me deixava leve e natural.
Faço sexo, saio em busca de prazer, um analgésico instantâneo, conheço novas posições, novos sons ao pé do ouvido, me consola um outro alguém. Por um breve momento me permito ser enganado, me deixo sofrer em êxtase pela troca de beijos e amassos, pernas, mãos e olhares de desejo.
Eu poderia ser feliz, poderia se somente isso me bastasse. Acordo e vejo esse alguém desconhecido ao meu lado, as vezes no mesmo abraço, e penso como num estalo 'por que não é você ao meu lado?' e me calo.
Levanto da cama, preciso de um banho, me livrar do que me satisfez na madrugada, preciso desesperadamente de você, que seja em uma xícara de café, que seja em uma mensagem antiga que ainda guardo no telefone, que seja no som alto com seu cantor favorito e que acorde, expulse aquela pessoa desconhecida do meu quarto, preciso, por instinto me cercar de você.
Aquele alguém que me beija sem saber que já não estou ali, parte pro meu alivio, e acredita que não foi apenas uma noite. Sem saber que ninguém jamais terá de mim mais do que isso, e mesmo que entorpecido pela noite e pelo prazer dos corpos dançando embaixo dos lençóis, eu acordo hoje infeliz e com uma saudade ensurdecedora, me lamento, pois ali, ao meu lado, por um lance de centímetros do meu rosto, perdido no meu abraço, não era você.

- L.Martins

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