quinta-feira, 23 de abril de 2015

Não saia de si

Saí do sério.
Portas sofreram, o tempo desacelerou, os passos ficaram apressados.
Não reconheço a face, a forma, o medo, a história.
Fazer parte, do que só se reparte, se desfaz, se desintegra.
Não faz parte de mim, do que sou, do que quero ser, do que tentei ser.
O sol brilha, queima, mas aqui dentro o calor não é belo, é incerto, misturado ao laranja do fogo.
Tanta cores desfeitas em segundos, tudo preto, cinza. Incolor.
Quando foi que aquilo tudo se transformou e rasgou em pedaços o que recebia a palavra suave como nome maior?
Não sou vilã, nem capataz. Não prezo pelo descuido de agir por agir, explodir, desistir.
Ferir a quem se quer amar, cuidar, respeitar. Não faz parte de mim, assim ser, por falta de saber acalmar.
Seja o jogo passional, com doses racionais de dor, melancolia e desespero. Será tudo isso parte do que alguns chamam de amigo, e trazem no peito, considerado como amor?
Entenda-se que jamais alguém será capaz de explicar detalhadamente, ou repassar de forma conclusiva a fórmula mágica, o pote de ouro, como ganhar o jogo.
Jogo esse feito para perder. Se perder, entre tantas descobertas, esquinas, viradas da vida. Perder-se a timidez, a solidão, a mágoa passageira. Perde-se o medo, ou ganha-se a coragem em enfrentá-lo. O medo de explorar as possibilidades, sim, isso faz parte de mim.
E por maior que pareça a dificuldade de coexistir, há algo maior que conduz, que envolve e quase de forma inaudível pede para que não saia de si, não se desprenda de tudo aquilo que entregou.
Voltar atrás e se arrepender. Parar, respirar e saber reconhecer.
Quanta coragem, ou quanta imaturidade. Quem vai atirar as pedras ou colher as flores?
O arqueiro que atira sem um alvo, ou a flecha que muda a direção segundos antes?
Sair de si, desistir, se entregar ou entregar os pontos? Não, não saia de si, aprenda a coexistir. Aprenda a me aceitar assim, a caber dentro do abraço que guardei pra ti.
Uma luz que segue a ponta de dois caminhos distintos, o laço não feito, orientado por aquele descanso no teu peito e enquanto as mãos se encontravam na noite fria, sem estrelas, mas que mesmo assim parecia ter seu próprio brilho.
Já fui ateu, já procurei Deus. Respostas, dúvidas. Memórias e novas histórias.
Fui o descaso de quem quer cuidados, e encontrei dentro de mim uma chance de fazer parte de algo maior quando você chega até mim. Encontrei, quando já não queria lutar, quando tinha a tendência diária a me matar e expor feridas em palavras. Outra vida salva em silenciosa batalha.
Não saia de si, trancando-se e expulsando quem chega pra ficar perto de ti. Aceita o outro, aceite a si. Aceite tudo aquilo que faz parte da descoberta de viver em par, de viver para amar, de viver aprendendo a ser mais, aprendendo a somar.
Será que a flecha atingiu o alvo, ou foi o alvo que se chocou diante da flecha na tentativa de salvar o que de mais bonito seria sua verdadeira entrega?
Será que foi na curva, na jogada antecipada, ou na sorte que pareceu ser a escolha certa?
Quem sair daqui, fica um outro dia, uma outra vida para descobrir.

- Lu Martins

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